
Psicoterapia no tratamento de dor na relação sexual
“Como a psicoterapia poderia me ajudar se o meu problema é físico?”
“Eu não sofri nenhum trauma, será que preciso mesmo fazer terapia?”
“Não aguento mais contar a minha história para quem não entende o que eu passo” ou “já fui num(a) psicólogo(a) que não entendeu ou não me ajudou muito, será que preciso mesmo insistir nisso?”
Esses são pensamentos e comentários que algumas mulheres com dor na relação sexual costumam ter/fazer, tenham elas apenas a vulvodínia ou vaginismo ou os dois juntos. Elas têm dúvidas da real necessidade e/ou efetividade de um tratamento com psicólogo, mesmo depois de saberem que o tratamento multiprofissional (com médico, fisioterapeuta e PSICÓLOGO) é o mais indicado para a superação da sua queixa de dor na relação sexual. Fiz uma lista que pode te auxiliar a entender como a psicoterapia atua e pode ajudar nesses casos.
A sua dor não é apenas física
Embora ela seja bem concreta, real e facilmente localizável num parte do seu corpo, ela também é uma dor emocional. Seja por fatos que ocorreram no passado que ainda te marcam e precisam ser superados ou por situações presentes que te frustram, mas ela está aí… não só no seu corpo, mas também nos seus pensamentos, emoções e sentimentos.
Você precisa superar experiências negativas não só do passado, mas também do presente
Ok, nem toda mulher com vulvodínia ou vaginismo teve uma experiência traumática no passado, mas é inegável que a grande maioria, se não todas, tem frustrações e experiências negativas no presente. Seja por se cobrar demais; seja por se relacionar com parceiros que não entendem ou não sabem lidar com sua dificuldade e acabam fazendo comentários ou ações que atrapalham/limitam o seu progresso; ou por passarem a desenvolver uma autoimagem bem negativa devido a sua dificuldade sexual e etc.
No caso da vulvodínia, por exemplo, receber o diagnóstico de uma dor crônica que não tem cura, é uma experiência bem desanimadora para muitas mulheres. Porém, a mulher precisará encontrar forças e ânimo para prosseguir com seu tratamento e ter controle dos sintomas.
Tanto no vaginismo como na vulvodínia, as constantes tentativas de penetração sem sucesso podem gerar um sentimento de frustração e desânimo, que levam algumas mulheres a abandonarem o tratamento antes do fim. E aí, vamos ao próximo tópico.
Sua frustração pode levar a autossabotagem
O tratamento nem sempre é animador e com progressos constantes. Tem sessão que parece não avançar muito em comparação com a sessão anterior. Tem dias que é mais difícil relaxar e colocar os dilatadores em casa. Em outros dias o que você menos quer fazer é usar os dilatadores, o desânimo toma conta e você se sente a pior mulher do mundo por não estar se dedicando tanto quanto “deveria”.
Algumas mulheres, infelizmente, passam por problemas ou terminam seu relacionamento durante o tratamento e acabam acreditando que não faz mais sentido continuar se tratando.
Passar por essas frustrações um dia ou outro acontece (em alguns casos faz parte do tratamento) e pode nem atrapalhá-lo tanto. O problema surge quando elas começam a se tornar constantes e intensas, levando muitas mulheres a começarem a se sabotarem. Começam a faltar a fisioterapia, “esquecem” de fazer os exercícios em casa ou adiam alguma ação importante que faria elas terminarem o tratamento mais rapidamente.
A psicoterapia ajuda a entender quais emoções, sentimentos e pensamentos estão por trás dessa autossabotagem e a criar estratégias para combatê-la, continuando seu tratamento até o fim.
Eu deveria….
Quais regras você tem tentado seguir e não tem conseguido? Quem criou essas regras? Para que elas foram criadas? Elas tem te ajudado ou atrapalhado? Quando você não cumpre com um desses “eu devo…”, como você se sente?
Embora você não esteja totalmente consciente sobre isso, muitas dessas regras foram criadas por você mesma ou aceitas como corretas sem nenhum questionamento. E ao invés de te ajudar, elas podem estar te atrapalhando, ao fazer ver você mesma, os outros e o mundo de uma forma mais rígida ou reforçando crenças disfuncionais.
Na psicoterapia você terá a oportunidade de rever as regras que têm seguido, questionar a real necessidade de cada uma existir e manter aquilo que te faz bem.
Você precisará superar medos, inseguranças e sintomas de grande sofrimento emocional
Um número considerável de mulheres com vaginismo sentem medo(s)…. da dor, de engravidar, de não conseguir se tratar, de serem rejeitadas e etc.
Este medo pode gerar falta de segurança na sua capacidade de superar essa disfunção, de sentir e dar prazer e, em alguns casos, este sofrimento emocional poderá ser tão grande que algumas mulheres apresentam sintomas de ansiedade ou depressão.
A psicoterapia é muito útil para superar qualquer medo, insegurança ou sintomas de outros transtornos que possam surgir em conjunto ou por causa do vaginismo ou vulvodínia.
Melhorar a comunicação com o parceiro
Uma boa comunicação sobre suas necessidades, desejos e sentimentos está relacionada a uma maior satisfação conjugal. Esta satisfação na relação acaba favorecendo uma maior satisfação sexual.
Na psicoterapia você poderá aprender estratégias para melhorar sua comunicação com seu parceiro, não só no dia a dia, como na relação sexual também.
Experiência ruim com um profissional não significa que nenhum possa te ajudar
Eu sei que muitas mulheres com vaginismo já tiveram experiências negativas com algum(ns) ginecologista(s) e também com algum(ns) psicólogo(s), infelizmente.
Em relação aos ginecologistas, acho melhor deixar esta discussão para outro texto. Vou me ater apenas às experiências negativas com psicólogos, ok?!
Embora muita gente já tenha ouvido falar de Freud e das famosas fases do desenvolvimento psicossexual (as famosas fases oral, anal, fálica, latência e genital), infelizmente o assunto sexualidade de forma mais aprofundada, atualizada e baseado em evidências científicas, é raramente debatido dos cursos de psicologia. Pode parecer incoerente, e na minha opinião é mesmo, já que a sexualidade é uma das áreas (IMPORTANTES, diga-se de passagem) da nossa vida, mas não apenas o curso de psicologia, como outros na área da saúde tem esta falha no currículo.
O que quero dizer é que infelizmente muitos psicólogos, mesmo com a melhor das intenções, não estão apropriadamente preparados para atenderem demandas de queixa sexual, especialmente de disfunções sexuais. Em certos casos, eles nem têm noção da sua falta de conhecimento apropriado sobre o tema. Alguns já ouviram falar muito por cima sobre o que é vaginismo, mas acham que é uma disfunção raríssima de acontecer. Na prática, cada vez mais a gente tem visto que não é bem assim, né? Uma grande maioria nunca nem ouviu falar em “vulvoo o que!!??”…..“aahh, vul – vo – dí – ni – a”.
Por este motivo, eu sempre indico que se busque um psicólogo que seja terapeuta sexual ou sexólogo e entenda de disfunções sexuais. Este estará devidamente preparado para lidar com o seu caso.
Se mesmo sendo um profissional que entenda do assunto, você não concordar ou gostar de algumas sugestões que ele fizer, como por exemplo, se masturbar ou assistir pornografia, converse claramente sobre como você se sente diante de tais sugestões e junto com seu psicólogo, tente encontrar estratégias alternativas que possam ajudar no seu caso.
Já recebi pedidos de ajuda de algumas pacientes que estavam insatisfeitas sobre isso em seus processos de terapia, especialmente quando são pessoas religiosas. A orientação que dou sempre, é: Antes de sair desistindo da sua terapia ou terapeuta, converse com seu psicólogo e explique seu ponto de vista. De fato, não vai ajudar no seu processo de superação fazer algo que agrida seus valores morais e religiosos. Só tome uma decisão mais drástica, se vocês não conseguirem chegar num consenso e sua confiança no trabalho do profissional ficar irrecuperavelmente abalada.
A terapia é um ambiente maravilhoso para exercitamos uma atitude mais ativa (e não tão passiva) diante de nossas escolhas, ações e a vida em geral. Esta experiência pode ser um bom exercício para isto, tendo o apoio do seu psicoterapeuta. E este também poderia ser um bom assunto para aprofundarmos em outro texto. Deixe-me saber se você tem interesse que eu fale mais sobre como ter uma atitude mais ativa diante do seu próprio processo de psicoterapia.
Sua sexualidade pode ser muito melhor
A sexualidade de quem enfrenta dor na relação sexual costuma ter significados negativos. Sexo é = dor / desconforto / frustração / desânimo / falta de desejo / e por aí vai.
Na psicoterapia você terá a oportunidade de ressignificar a sua sexualidade, ou seja, o sexo poderá receber significados diferentes, como: prazeroso, gostoso, troca, intimidade, conexão e o que mais você desejar.
Esta é a oportunidade de juntar as peças de um grande quebra-cabeça e dar um novo significado para ele. Só que você precisa estar disposta a buscar estas peças, organizá-las, juntá-las uma a uma e por fim dar o significado que desejar para esta história que se formou diante de você.
Você não precisa carregar e enfrentar essa dor sozinha, pode contar com a ajuda de mais alguém que vai te dar forças para não desanimar, estará no lugar de não-julgamento e te ajudará a encontrar as melhores estratégias para vencer este desafio.
Lembre-se sempre que para o vaginismo ter fim ou a vulvodínia ficar sob controle, você precisa persistir com seu tratamento até o FIM. Não desista!
Se você deseja ficar atualizada sobre dor na relação sexual, siga estes perfis no Instagram:
- Vaginismo tem fim
- Vulvodínia você não está sozinha
- Vulvodínia Brasil
- Sim, eu tenho vulvodínia
- Doer não é normal (ter vulvodínia em Portugal)

Psicóloga e Coach. Meu objetivo é ajudar as pessoas a encontrarem novas possibilidades para ultrapassar as barreiras para a REALIZAÇÃO dos seus SONHOS, tanto profissionais quanto pessoais.